sábado, janeiro 24, 2009

Presciência


23 de março de 2009, 7 da manha. O céu estava nublado e mesmo assim no meu sorriso era verão. Sorri antes mesmo de abrir os olhos porque sabia que estava em outro lugar...atrás da janela não havia mais um muro e as paredes do cômodo não eram mais verdes. Custei a compreender.
Senti rapidamente a conseqüência de saltar na vida; queria visitar Paris e morar em Nova York, um pouco menos de 5 anos...ate acordar, me sentir feliz por estar num outro lugar e desejar ir a lua, quem sabe. Depois do sobressalto, levantei-me para começar o dia. Fiquei confusa por não encontrar os objetos nos lugares de costume, mas senti-me bem com as mudanças...havia coisas para chamar de “minhas”, lugares para chamar de meus, amigos por perto, uma historia surreal de um casal apaixonado em cujo protagonismo eu me encaixava...uma varanda pra ver a vida em sua mais real efervescência, cores, sons..evidências. Chegava a hora do pensamento de praxe, a “oração” matutina de meus desejos: deixar de batalhar por uma vida-ideal-world business-super-um-saco e querer ver no que dá apostar na simples e sensata vontade de ser feliz. Viver a “realidade” é um preço que se transformou num masoquismo social... Todo mundo deixa de fazer o que gosta e o que sabe pra sobreviver, inclusive eu. Entretanto, estava eu ali disposta a mudar. Tá que mudanças nunca foram meu forte, eu sempre tremi as pernas com isso, mas também sempre fui consciente de que o caminho da mediocridade não era meu e nem nunca será.
Lá fui eu passar o dia num farsesco ambiente que rege a vida e o modo de produção do nosso século...eu sempre tive um “Q” de admiração pelo marxismo..não estranhem se eu disser que o trabalho assalariado não dignifica, mas isso a gente conversa depois. Mas enfim, “paguei a língua” indo trabalhar no ícone do capitalismo e o pior, vicei no meu trabalho. Passaram-se as horas, as pessoas novas, o ambiente novo e eu saí de la respirando o ar que almejava, o ambiente que almejava... as companhias que almejava. Era um emaranhado de coisas perfeitas, coisas difíceis, mas repito, perfeitas.
Ainda era período de férias universitárias...estaria de volta apenas em Julho e, por conseguinte, a noite estava livre. O dia terminaria com toda certeza e intensa presciência, com um beijo de boa noite no ícone dos meus esforços e amores. Dessa vez não seria um adeus..aliás, jamais seria adeus, não novamente.
24 de Janeiro de 2009, 7 da manhã. O céu estava nublado e os olhos cheios de lagrimas. Vi o muro atrás da janela e as paredes do cômodo eram verdes. Não foi um sonho, foi o futuro.