domingo, novembro 08, 2009

Divã

Na sala com um psicoterapeuta...

- Sabe, demorei pra falar sobre o amor... Não sei nem mais escrever cartas de amor, poemas de amor. Ainda que haja uma explicação para tal fato, não há racionalidade nem sequer certames, tópicos, ilustrações. Irrefutavelmente, existem coisas que eu sei que acontecerão de novo, embora eu também deseje que nunca mais aconteçam. O sobrenatural é deveras inebriante ao passo que a tragédia está sempre bem presente na vida real, irracional, etérea.

Devaneios confusos norteiam o coração. Adquiri um defeito camuflado por uma nuvem de ingenuidade sob os olhos: a ilusão alcança a todos os seres. Caso soubesse convictamente deste acaso, teria me debruçado sobre a riqueza material e imaterial; intransponíveis. Brincar com o amor tem lá suas recompensas, quer sejam boas, quer sejam ruins. O perigo, definitivamente, malogra o excitamento de um coração vaidoso. Será que eu também caí neste encantamento? Será que a decepção deixou meu ser abjeto?

É certo, pois, que não fica impune, nenhum olhar mortal sobre mim. Pior de tal fato é a ciência disto nos lampejos de meus pensamentos. Revogo o interesse físico e metafísico até que a sede cativa à paixão assenta-se cruelmente em uma desilusão, quase que circunstancial. Alem de encantar, saberia desencantar sem deixar mazelas, impregnando um rastro da mais sublime alteridade.

- Quem és? - Perguntou o Dr W.

- Sou um anjo maquiavélico encantadoramente irônico. Um inferno ético que assola o campo das emoções e sentimentos engessados ao meu redor.

- Que farás quando achares um amor?

- Não faço a menor ideia.


Para aqueles que ainda acreditam no amor, mesmo não fazendo a menor ideia de como ele virá...