Engraçado como às vezes, ter equilíbrio é perder o equilíbrio. Isso é tão penoso para pessoas muito racionais, como eu. Houve um tempo, inclusive, em que eu tinha medo deste ocaso grandioso que é a vida, dessa inconstância desvairada. Pô, eu ainda peguei o tempo das cartas, dos telegramas, do pique esconde, da salada mista tímidazinha, da aflitiva e dramática consciência de onde vêm os bebês (tinha até um livro idiota- explicativo que ganhei), do picolé de R$ 0,25, do cruzeiro, caramba! Do sentar-se na porta da rua pra ver o movimento, da musica boa ressoando das caixas de som dos automóveis, do ar mais puro por aqui...É então que percebo como as coisas mudaram em pouco mais de duas décadas...hoje o delírio habituou quem estava acostumado com “banalidades”. As coisas simples ficaram tão mais simples que ninguém nem as sente, nem as vê, nem as ama.
É por isso que eu insisto: ter equilíbrio é perder o equilíbrio. As vezes, tão somente. Viajar mais, pensar menos, amar mais, emburrar-se menos, sentir mais, mentir menos. Penhorar o coração à liberdade. O mundo é um amontoado de futilidades, mas também de utilidades. Se a vida muda, se os detalhes são, hoje, mais cheios de tecnologia que emoção e você, como eu, não se conforma muito...desequilibre-se. Perca-se, desconforme-se. Pegue a roupa mais leve e dê um passeio consigo mesmo. Não burocratize a alma. Sabe qual o ponto fraco/forte do equilíbrio? O amor. Ele, ao passo que confunde, salva. O amor é antiburguês. É proletário, vagabundo, irracional. O amor, quanto mais condenado à ruína, mais aproxima-se do auge...isso porque a lucidez sobre o caos da relação traz ignição forte ao coração. Mata-se e morre por amor e seu deslumbramento redundante. É a anormalidade mais normal que conheço. Um amante é um nato débil mental, visto que acredita fielmente que fará uma única pessoa feliz e será feliz, unicamente, se com ela estiver...isso, num universo de mais de seis bilhões de pessoas. Em pensar que nos amores terminados é um “quase morro” pra cá, “sem ele(a) eu não vivo” pra lá. A verdade é que o amor tem que ser sempre eterno, mesmo quando acaba. O amor não é matrimonializado, patrimonializado, não é contrato, não é ter uma casa bonita com carro na garagem e filhos brincando no lindo jardim. O amor é a irrenunciável esperança de ser livremente cativo ao outro. O amor arrebata e funda o paraíso da cumplicidade. É desequilíbrio equilibrado. Faz bem.
O equilíbrio é a paz. As vezes o equilíbrio é desequilibrar-se para ter paz. Não importa como a gente organiza a vida, se estivermos em paz...está tudo bem. Durma, acorde, ame, medite, apaixone-se, cante, dance, trabalhe, perdoe-se, respire...em paz com a vida.