quinta-feira, abril 15, 2010

"O samba, a prontidão/e outras bossas,/são nossas coisas(...)"

Bem como a vida exprime a mistura e o encanto de ser unicamente plural, há, dentre outras coisas interessantes, a bossa nova. De um emaranhado de etéreas sensações, faz-se esse jazz-samba que alimenta paixões. A bossa nova, desde o seu surgimento quase que espontâneo, um paradigma musical autenticamente brasileiro, nasceu preciso..., preciso para viver. E viver, na alma do artista é revolucionar o marasmo dom de manter-se omisso. Cantar, por sua vez, é fazer uma faxina na alma e dançar é, singelamente repousar sobre um gozo fatigante. “Isso é bossa nova, isso é muito natural...”. Tropicália, bossa, clube da esquina...as eras perduram e aquecem os corações saudosos. Até quem não nasceu nesses dias tão brilhantes sufocam em nostalgia.
- Bossa nova é iguaria fina – disse o velho Cajazeira enquanto sussurrava “desafinado” e dedilhava o violão.
- Quero morrer ao som de “wave”, na beira do mar – suspirei .
- Vire essa boca pra lá menina! – retrucou – Pense em musica enquanto tiver ar nos pulmões.
- Como a musica brasileira consegue ser tão amorosa, leve e refinada hein seu Cajazeira? Eu proponho um brinde! – ri ao ver o sorriso largo de Cajazeira.
- É o prefácio Manoela, um prefácio da vida. – pronunciou em tom de voz baixo e sonhador enquanto erguia a taça de vinho.
- Boa noite, vocês me desculpem por estar interrompendo a conversa, mas é só um minutinho. – disse um rapaz que se aproximara de nossa mesa.
- Ah, pois não. – disse Cajazeira surpreso.
- Bem, não é a senhora que é a cantora? Aquela loirinha que canta? Minha filha está ali me perturbando dizendo que é você. – os olhos do homem fixaram-me.
- Cantar eu canto, mas eu não tenho certeza de que sou eu a cantora a qual sua filha se refere.
- Kelly minha moleca, vem cá! Vem ver, é ela! Sua chará! – a adolescente correu.
- Sua cha..?
- Olhe, eu não quero intrometer nada viu? Podem continuar conversando...mas será que você poderia fazer um sonzinho nesse bar? Assim, ao vivo...é que minha Kelly faz aniversario hoje e ela é sua fã sabe?
- É, talvez ela possa – disse Cajazeira rindo com o canto da boca numa expressão maldosa.
- É, talvez eu possa.
- Você se incomodaria se antes eu “batesse” uma foto de vocês duas?
- Eu...
- É pra ela colocar ampliada na parede do quarto.
- Mas..
- Você pode encostar mais pro lado esquerdo?
- É...
O flash foi tão forte que devo ter ficado com os olhos fechados na fotografia. Levantei rapidamente sem escutar mais o que o homem dizia e puxei Cajazeira comigo para o pequeno palco do bar. Cantei “samba de verão” sorrindo para a tal menina Kelly e seu pai que tanto me pirraçou. Eles pareciam felizes, embora insatisfeitos.
- Psiu! Escute! – sussurrou Cajazeira para que ouvíssemos o comentário do pai da garota já na saída do bar: “- ela não cantou ‘Barbie girl’ não é mesmo filha? Aquela que você mais gosta...” .
Rimos. Rimos e descobrimos que apesar da confusão, a fotografia pendurada na parede do quarto da moça será a da jovem cantora anônima de bossa nova. E olha que eu tentei avisar, juro que tentei. Rs.

6 comentários:

Frida Vasconselos disse...

Ei! Estava pasando por aqui e achei seu blog sensacional! Parabéns. Vc reuniu uma perspicácia enorme em seus textos. profissional!

um abraço, Frida

Bruno disse...

Ual...que crônica!!!

Unknown disse...

É meu amor, a cada dia eu me surpreendo ainda mais com seus talentos.
Crônica incrível. Sensacional.

Unknown disse...

"Cantar, por sua vez, é fazer uma faxina na alma..."
Incrível como você consegue definir os sentimentos em uma só frase.

Continuo a afirmar que suas palavras,seus textos esbanjam leveza,ritmo e sem contar de que dar vontade de não parar.São agradáveis!

É lindo Mene!

Beijobeijos!

Unknown disse...

Haaa...e por favor, quero sempre mais atualizações por aqui.


Cheruu!
=D

Unknown disse...

Prender a atenção em um texto é uma coisa que poucos escritores consegue. Vc domina essa arte facil... fã de seus textos sempre.

Continue escrevendo e postando aqui... :D

bjo Me