A chuva parecia adormecê-la um pouco. Os olhos se entreabriam vagarosamente numa sensação ficta de cansaço e o cobertor pedia-lhe os pés. L sonhou com seu grande apartamento e a vista luxuosa obtida pelos metros de vidraça num formato côncavo próximo a sala de estar. Ela lia um livro que lhe arrancava um sorriso de canto e aquosidade nos olhos atentos e sutis quando alguém apareceu a pôs-se a delinear seus cabelos castanhos com as mãos. N vestia uma camisa branca bem passada e seu sorriso era tão alvo quanto aquela. Estava infalivelmente charmoso.
A decoração era poética, moderna, a via crucis da inveja mortal. Até as vestimentas de L e N contrastavam, reluziam com a penumbra que as lâmpadas causavam no gesso moldado do teto. N, encostando-se no enorme sofá Barddal bege escuro, fechou o livro em cuja apreciação de L debruçava e deu-lhe um beijo. O beijo, por sua vez, desmarcou a pagina do romance e marcou cada batida e respiração ofegante de L...parecia o primeiro contato dos dois; parecia o céu indeciso se era dia ou noite, parecia uma canção que nascia por si só, parecia um laço que desatava com o vento; parecia, e de fato havia cortina de fumaça delatando paixão incipiente nos botões descasados.
E mesmo nesse emaranhado de desejos N olhava para L como se a claridade saísse de dentro dele para dar vida a ela. Em forma de sussurro ela proferia: “te amo, sempre” e o fazia todas as noites antes de dormirem porque acreditava que os sonhos noturnos seriam melhores. Por conseguinte, a vida seria irrefutavelmente melhor. L assim agia mesmo quando a discórdia penetrava a mente e constituía mazela...mas suas palavras salvavam as manhãs em que o perdão apresentava-se nas emoções adeptas ao welcome.
Naquela noite, dormiram após conversarem e gargalharem ao dispor sobre as lembranças da vida. A face de L sobrepunha-se ao peitoral de N e uma das pontas do lençol arrastava-se pelo piso artesanal do quarto. Os perfumes se confundiam, o relógio poderia parar, entretanto, corria impiedosamente.
O telefone pôs-se a tocar e L tomou um susto; acordou e ainda possuía o romance sobre o seio. Na linha falava alguém do hospital chamando-a com urgência. O sonho bom esvaiu-se de sua mente quando, chegando ao hospital, presenciou N vestido com camisa branca ensangüentada, em estado inconsciente e mãos frias. Sentiu-se impotente diante de tal circunstância e aguardou revoltosamente por respostas. Horas depois, recebeu a noticia de que N falecera. L sonharia, a partir de então, a mesma coisa todos os dias até que as manhãs a dissessem que logo logo chegaria o momento de dormir novamente.
sábado, abril 11, 2009
Tragédia.
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16 comentários:
Como que a senhorita conseguiu falar desse acontecimento de um jeito tão, tão poético? Putz Sá, c é F! Vc n mentiu, n omitiu, mas cantou a historia de um jeito...fiquei arrepiado.
"de fato havia cortina de fumaça delatando paixão incipiente nos botões descasados." sem comentarios.
Bjo Sá sapeca, menina arretada q eu adoro.
Duuu...valeu!! Vc viu aew??..O q eu disse pra vc sobre contar as historias numa perspectiva diferente?
bjo, tb te adoro meninuchatoamigopratudo
Lindo post Mene! Deus um gostinho de "quero mais" rs
deu*
rs
achei lindo demais....nossa!
cada linha q essa garotinha escreve parece q faz um sentido na vida da gente...para de mim assustar mene!
beijo
ps.:vou me tornar um frequentador assiduo daqui!
=*
Nenem,
puxa.. vc é tão boa nisso, que nem sei o q dizer. Texto emocionante, seu jeito de retratar eh tão seu.. adoro mto, Bjaum.. (vamu comentar meu povo)
Que sabidinha!
Adorei a historinha na hora de dormir.
Conta mais ;P hihi
Parabéns, abiga sabida!
beijinhos.
OMG! Q foda Sá!
Que triste. Tenho medo de um amor morrer assim. A vida ia parar.
Quando sai o capitulo dois?
=~
adoro mesmo os seus textos!
beeejo Me.
Crônicas sempre terminam uma hra..mas ouvindo outra historia...escrevrei!
M, MUITO bom... adorei isso que você disse aqui nos comentários sobre contar a história através de uma otura perspectiva. Cara, sou fã do jeito que você articula as palavras e os detalhes todos perfeitos... Sabe que sou fã neh?
rss
;*
"Os perfumes se confundiam, o relógio poderia parar, entretanto, corria impiedosamente."
Oi moça! andei lendo seus últimos posts e você continua escrevendo maravilhosamente... e cada vez melhor...
muito bom mesmo, adorei esse último conto, em especial.
Ah, será que tu ainda se lembra de mim? rs (tem um link do meu blog aí do ladinho ainda "blog do Junim")... ah pois, estou de blog novo, se puder, dê uma passadinha lá e/ou atualize aí ao lado o novo endereço:
http://surfandokarmas.wordpress.com
beijos!
Você escreve muito bem. Lindo texto!
http://www.monicacarvalho.zip.net
Sinceramente, não esperava o final trágico.. não de vc.. enquanto lia, ia pensando: q lindo! mene é mesmo repleta de poesia! uma prosa poética! fá-la como ninguém! Contudo, lhe subestimei, mene, não cri em teu (ultra-romantismo?), achei q acabaria ou em "ousadia" ou em olhares emaranhados de L e N para N e L definindo a doçura míope de seu amor eterno, enfim.. mas não, vc me traz sangue, me dá urgência, mãos frias, pasma-me com a revolta de um fim quase - por assim dizer - nelsonrodrigueano (por que não?).. :) I salute you! E me desculpo: fui ingênuo na minha subestima.
BTW: como leitor, sinto que devo agradecer.. pelo blog. sim, pq ultimamente a mim parece q os blogs deixaram de ter aquele aspecto pessoal de outrora, são todos (ou pretendem ser) muito "jornalísiticos" if you know what i mean, tornaram-se talvez competitivos demais, o nº de coments parece ser mais importante q o post em si, falam das mesmas coisas, os blogs tornam-se mini-portais de notícias, enfim.. perdeu-se aquela antiga delicadeza, desfez-se um pouco o conceito de diário virtual, e é por isso q agradeço-lhe e, oportunamente, clamo para que não deixe de atualizar o blog, não nos prive dos dias simples e da excentricidade dos pensamentos, que tão bem vc expressa.
Xero!
WTF! Só agora percebo que o título do texto é TRAGÉDIA! kkkkkkkkkkkk.. abafa! (marcarei oftalmo 1ª coisa de manhã +D)
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