
Incomum é contemplar fogos de artifício no céu do natal. Mais incomum é ter vontade de chorar com todos eles no ar...vê-los foi como realizar um sonho...ouvi-los foi como descansar ao som de contos machadianos. Imaginei a vida como se passasse por uma paralaxe de galáxias, uma locadora de filmes...uma biblioteca central ou uma padaria atrás da minha casa. As cenas se misturavam, tive múltiplos déjà vu’s e inteiros pensamentos que custavam a voltar para o planeta Terra. Percebi diversas manias dos seres humanos... manias daquelas que incitam as mães com seus inconfundíveis “ que coisa feia !”...manias de se acharem imortais, controlados e impassíveis diante do amor; insensíveis aos sorrisos dos olhares alheios e mesquinhos por acharem que suas vontades são superiores às suas renuncias diárias em favor de alguém. Os homens, definitivamente, deveriam ser como fogos de artifício... lançar-se-iam ao céu num impulso extraordinário, e num despossuir de estrelismo, continuariam eternos, mesmo que todo brilho se tornasse invisível. Lá no alto, o barulho anunciaria o esplendor das emoções e em seguida, o silêncio trazendo consigo os questionamentos da razão. Excêntrico pensar em fogos de artifício no natal como a vida dos seres humanos no planeta Terra... primeiro porque os fogos só aparecem na virada do ano e segundo que não é todo dia que se vê um espetáculo da varanda do prédio. Era esse espetáculo que eu gostaria de assistir todos os dias da minha janela; os humanos saindo de suas mediocridades, quebrando os vitrais do medo, fazendo novos e esperançosos sonhos, amando intensamente até que chegassem ao mais intenso prazer de olhar a vida do alto, pra que depois, toda sabedoria adquirida os permitissem se despir do brilho para alcançar lugares desconhecidos. Os fogos que vi iam às alturas para se eternizarem em minha memória... as pessoas que desejo ver são capazes de muito mais.